Perfil Epidemiológico dos Pacientes Diagnosticados com Mieloma Múltiplo na Microrregião da Baixada Santista e Vale do Ribeira

Dra. Elaine Mancilha. APRESENTA ESTUDO, PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM MIELOMA MÚLTIPLO NA MICRORREGIÃO DA BAIXADA SANTISTA E VALE DO RIBEIRA

10/25/20252 min read

Introdução

O mieloma múltiplo (MM) é uma neoplasia hematológica caracterizada pela proliferação clonal de plasmócitos na medula óssea e pela produção de proteína monoclonal. Corresponde a cerca de 1–2% de todos os cânceres e a aproximadamente 10% das doenças hematológicas. A baixada santista é composta por nove municípios e cerca de 2,1 milhão de habitantes, juntamente com o Vale do Ribeira.1 O município de Santos constitui importante área de referência em onco-hematologia no litoral sul paulista, destaca-se por apresentar elevada proporção de idosos, fator que pode contribuir para maior incidência de doenças relacionadas ao envelhecimento, como o MM. Apesar dessa relevância epidemiológica, há escassez de dados regionais sobre o perfil clínico e o acesso ao tratamento desses pacientes, especialmente no sistema público de saúde.

Objetivo

Descrever o perfil epidemiológico e clínico dos pacientes com MM em acompanhamento nos serviços participantes, incluindo apresentação clínica, marcadores laboratoriais, tempo até o diagnóstico e acesso/estratégias de tratamento.

Métodos

Estudo observacional e transversal, incluiu pacientes em acompanhamento ativo na Santa Casa de Misericórdia de Santos e no Hospital Guilherme Álvaro, sendo estes os dois únicos hospitais de referência em onco-hematologia na região. Todos os pacientes são atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foram excluídos os pacientes que foram a óbito ou perderam seguimento antes do período de coleta. Variáveis analisadas: idade, sexo, componentes CRAB, proteína monoclonal sérica/urinária, classe isotípica, comorbidades, uso de radioterapia, elegibilidade e realização de transplante autólogo (TCTH-A) e esquemas sistêmicos por linha de tratamento.

Resultados

Foram avaliados 45 pacientes com uma média de idade ao diagnóstico foi de 65,9 anos (DP 14,3). Anemia esteve presente em 60,4%, lesões ósseas em 90,7%, insuficiência renal em 25,6% e hipercalcemia em 16,3%. Predominou IgG monoclonal (68,3%). Em termos terapêuticos, 80% eram elegíveis ao TCTH-A; entretanto, apenas 10 (27,78%) realizaram o procedimento. Na primeira linha, os esquemas mais utilizados foram VCD (76,2%), AlkPred (7,1%) e CTD (7,1%).

Discussão

Nesta coorte censitária observou-se predomínio de pacientes idosos e carga clínica expressiva à apresentação (CRAB). A elegibilidade ao TCTH-A foi elevada (80%), mas a realização do procedimento foi de 27,78%, aquém de séries brasileiras (~30%) e latino-americanas (~27%), sugerindo barreiras assistenciais e logísticas, coerentes com a ausência de centro transplantador nesta região.2 Comparativamente a séries nacionais e internacionais, a idade e o padrão clínico são semelhantes, porém o acesso ao transplante permanece um ponto crítico a ser endereçado com organização regional da linha de cuidado.3 Ainda pode se observar o baixo acesso a tratamentos quimioterápicos como anticorpos monoclonais e imunomoduladores, sendo este o cenário atual no SUS em todo o Brasil, logo a variação dos protocolos utilizados foi discreta, com alta prevalência do uso de VCD.4.

Conclusão

Os dados regionais apontam necessidade de diagnóstico oportuno, ampliação de acesso a terapias e viabilização de TCTH autólogo em rede regional. A criação deste centro de referência pode mitigar desigualdades e melhorar desfechos em MM na Baixada Santista e Vale do Ribeira.

Referencias

1. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Estimativas da população residente no Brasil e unidades da federação com data de referência em 1º de julho de 2024. Rio de Janeiro: IBGE, 2024. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: 21 out. 2025.

2.Hungria VTM, Maiolino A, Martinez G, et al. Observational study of multiple myeloma in Latin America. 2017.

3. Autologous transplantation as early therapy in multiple myeloma: trends and outcomes. BJH, 2020 (10.1111/bjh.16124).

4. Guedes A, Becker RG, Teixeira LEM. Mieloma múltiplo: atualização. Rev Bras Ortop. 2023;58(3):361–367.